quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Abaixo a Matemática



Sei que vivemos numa era na qual somente uma minoria, os especialistas, tem a prerrogativa de opinar sobre questões relevantes. A nós os leigos, resta apenas acreditar no que diz tal minoria; entendamos a mensagem ou não. Entretanto, encorajado pelo vinho de cinco reais comprado com uma das parcelas do bolsa família, resolvi insubordinar-me contra a ditatura que me proibi opinar sobre o quê não entendo.

Por certo meu protesto será considerado um ato desesperado de um ser que desconhece o posto que lhe cabe. Especialmente porque resolvi manifestar minha insatisfação contra que aquela que é a mais arcana das especialidades, a Matemática. Bem, arcana ao menos para uma mente incapaz de entender a diferença entre holístico e integral.

Dito isso, revelo meu guia nessa empreitada: uma memória de causar inveja no mais bem dotado dos paquidermes. Pois bem, o registro mais significativo sob meu poder é o que afirmava ser a ciência dos números “a base para o entendimento das leis que regem o universo conhecido”. Exagerando a hipérbole, minha professora dizia que ao encontrarmos seres extraterrestres nos comunicaríamos com eles por meio da Matemática!

Daí que o maior uso dos números é no convencimento de que vivemos no melhor dos mundos. Veja só, quando uma nova epidemia assola o planeta os especialistas em matemática dizem: “não temam, em 99,9% dos pacientes essa doença não apresenta sequelas, as poucas mortes foram fatalidades”. Já quando um acidente aéreo vem ressuscitar nossa desconfiança natural quanto a tirar os pés do chão dentro de uma caixa que pesa milhares de quilos, eles proclamam: “voar é o meio de transporte mais seguro do mundo, as chances de acidentes são de menos de uma em tantos milhões”.

Felizmente fui salvo da prepotência dos números por uma classe de homens de inestimável saber obtido na escola da vida, os políticos. Nossos estimados representantes preferem acreditar naquilo que vai no coração, pois sabem que nada de bom surge dos números, pelo contrário. Sim, enquanto os especialistas tentam nos convencer que a probabilidade de ficarmos doentes é baixíssima, logo que sentem que podem estar enfermos, os políticos partem para o melhor e mais próximo hospital a fim de se tratarem. Por outro lado, quando um avião de uma companhia aérea qualquer cai por falta de manutenção, as aeronaves públicas à disposição dos políticos são prontamente revisadas.

Obviamente minha confiança nos políticos não se deu modo instântaneo; antes de a luz se fazer presente, a oposição estes e os especialistas me deixou confuso. Em que deveria confiar? Foi então que, mais uma vez, minha memória me indicou a saída do labirinto. Me apossei da solução de um grande homem que também passou por uma crise semelhante em relação à verdade e disse: penso, logo existo. Então pensei: quais serias as probabilidades de eu não ser um completo imbecil caso a Matemática estivesse certa e os políticos errados? Como definitivamente não tenho nem uma fração de bobo, conclui que o único resultado possível era o de que a Matemática estava errada! Isso mesmo, repito: errada!

Não é à toa que se diz que todo consenso é burro! Afinal, uma pesquisa recente demonstrou que profissão mais desprezível do mundo é a de político. Prefiro acreditar que esses mal avaliados senhores são profissionais mais devotados até que os bombeiros, eleitos como queridinhos da população mundial.

Enfim, por tudo isso quero que se juntem a mim no movimento de minha autoria batizado de “abaixo a Matemática”. Façamos como nossos visionários políticos que já entenderam a moral do velho ditado “existem mentirosos, malditos mentirosos e estatísticos”.