sexta-feira, 22 de março de 2013

Daniel e os bichinhos do lixo - Cortando o lixo pela raiz (Livro 4)




Daniel e Sapeca lutavam com bravura; o garoto golpeava o monstro com sua espada. O cachorrinho não fazia por menos mordendo-o o arrando-lhe bocados. Mas não adiantava, aquele dragão feito de lixo era muito mais terrível que o Chorume e toda vez que Daniel ou seu cachorro arrancavam uma das cabeças do bicho outras duas cresciam no lugar. Com vários minutos de batalha a criatura gigante feita de lixo já tem mais de cem cabeças! Então, de repente, ela avançou para engolir o menino e seu cão. Em seguida Daniel acorda com o coração disparado e o suor escorrendo pela testa. Era só um sonho, quer dizer, era de novo aquele sonho estranho que o menino vinha tendo nas últimas semanas. Achou melhor não falar para o pai ou a mãe para que eles não se assustassem; só contava para Sapeca sobre sua participação no sonho e o cachorrinho latia de felicidade.

Já fazia um ano que, graças a uma ideia de seu João Antunes, a prefeitura tinha criado associação com os moradores de Flora do Sul para que todos ganhassem dinheiro separando o lixo da produzido na cidade. Eles tinham aprendido muitas coisas. Antes, eles só separavam papel, em recipientes azuis, metal nos amarelos, plástico nos vermelhos e vidro nos verdes. Mas depois que foram atacados pelo Chorume e descobriram o perigo que era deixar restos de comida, frutas ou verduras a céu aberto no lixão, passaram a recolher esse tipo de material também; em homenagem a Sapeca que eram marrozinho tinham escolhido o marrom para guardar o lixo que estragava.

Mas as coisas não estavam fáceis para seu João Antunes e membros da associação. Uma nova empresa tinha vindo de uma cidade vizinha e se oferecido para separar o lixo de Flora do Sul. O dono dessa empresa disse ao prefeito que cobraria mais barato pelo serviço que a associação de moradores e, por causa disse, a prefeitura ganharia mais dinheiro. Além disso, esse empresa tinha máquinas mais modernas que o pessoal da associação e, por isso, faria todo o serviço de forma mais rápida. O prefeito de Flora do Sul era muito agradecido ao pai de Daniel pelas coisas boas que ele tinha feito pela cidade, mas dizia que ele precisava melhorar o serviço porque a cidade crescera muito e a associação não estava dando conta de separar todo o lixo. Se nada fose feito, o lixão voltaria a aumentar de tamanho e mais terrenos da cidade seriam teriam de ser usados para guardar lixo.

Certa noite, seu João Antunes chegou em casa cansado, beijou dona Fátima, mãe de Daniel, e disse:

_ Está difícil, as pessoas produzem mais lixo que conseguimos separar!

Depois de pegar no sono, Daniel voltou a ter o mesmo sonho com o monstro de lixo que quanto mais era cortado, mais crescia. Só que pela manhã, quando acordou não estava assustado, pelo contrário, ele estava feliz pois tinha descoberto como ajudar seu pai e os catadores. Ele entendeu que o lixo produzido pelas pessoas de Flora do Sul era como o monstro de seu sonho, não parava de crescer nunca! Só que, ao contrário do dragão de lixo, havia uma forma de vencer o problema do lixo na cidade: ensinar as pessoas a não produzir tanto!

Com ajuda de sua professora, dona Esperança e do seu amigo, o senhor Engenho, Daniel convocou as pessoas de Flora do Sul para palestras em sua escola; como era muita gente, era preciso fazer palestras a semana inteira. Por sorte, era o mês de férias e ninguém precisou perder aulas. PP ajudou bastante na divulgação. Todo mundo queria saber quem eram aqueles urubus ensinados que voavam carregando faixas convidando todos às palestras da escola. Eram o amigo voador de Daniel e sua família de urubus.

Graças ao que tinha aprendido e à ajuda de dona Esperança e o senhor Engenho, Daniel falava para a pessoas dos perigos do lixo que não era tratado de forma correta. O menino falava da poluição que poderia ocorrer nas águas, no solo e até mesmo no ar puríssimo de Flora do Sul. Além desses problemas imediatos, Daniel alertava a todos sobre os vários tipos de materiais que se jogados em qualquer lugar iriam poluir o mundo para as pessoas que ainda nem tinham nascido. “Já imaginaram” dizia ele “daqui a mil anos as crianças do futuro estarão sofrendo por causa das latinhas de refrigerante que jogamos fora hoje?” As pessoas também ficaram admiradas ao descobrirem o enorme tempo que materiais como plástico, pneus e vidro demoravam para se desfazerem quando jogados nos locais não corretos.

Como o garoto queria que as pessoas realmente acreditassem na importância do que estava falando, ele explicava que o lixo não cuidado também acabava com a natureza de outra forma. Toda vez que papel era jogado fora, novas árvores tinham de morrer. Se o material desperdiçado era o plástico, mais petróleo tinha de ser retirado das profundezas da terra para repô-lo. Já o vidro, Daniel tinha aprendido isso há um ano, na época do Chorume, acabava com a areia para ser produzido. Todo dia, durante aquela semana inteira, Daniel era muito aplaudido quando acaba suas explicações; todos estavam muito admirados que um garoto tão pequeno soubesse tanto! Na verdade, só algumas pessoas sabiam que tudo aquilo era graças à curiosidade do menino que não acabava nunca.

Nas semanas que se seguiram às palestras na escola, seu João Antunes e associação de moradores catadores de lixo, espalharam por toda cidade cestos especiais para a coleta de lixo. A ideia era chamada de coleta seletiva, quer dizer, cada tipo de lixo era posto em seu cesto correto. Tudo do mesmo jeito que Daniel tinha inventado quando encontrou os bichinhos do lixo pela primeira vez. Para ajudar as pessoas a aprenderem sobre a coleta seletiva, o pessoal do seu João Antunes sempre deixava uma placa com explicações ao lado dos tambores especiais.

Cezinha, e os outros meninos da turma do Educandário ajudaram Daniel a distribuir por toda Flora do Sul, folhetos explicativos sobre a importância e vantagens da coleta seletiva. Claro que os folhetos eram feitos de papel reaproveitado pela associação de catadores!

Graças ao sonho de Daniel e as ideias que vieram dele, seu João Antunes e a associação estavam dando conta do lixo produzido em Flora do Azul. Também, agora quase tudo já chegava separadinho; só era preciso ir até às cestos coloridos de coleta seletiva e recolher o material. Agora, o lixo vindo do resto de comida não sujava mais os outros tipos de material como papel e papelão, plástico, vidro e metal. Enquanto esses eram reaproveitados, o lixo que estragava era guardado em locais especiais e transformado em adubo: um material valioso vendido pela associação para os fazendeiros e sitiantes de Flora do Sul usarem em suas plantações. Quer dizer, o lixo vindo das coisas que estragavam ainda tinha substâncias que faziam as plantações crescerem fortes e nutritivas; por isso, o adubo podia ser vendido.

Daniel pensava admirado “nossa quanta coisa do lixo dá para ser reaproveitada, não importa se é resto de comida ou papel, plástico, vidro ou metal!”

  Daniel e seus amigos toda semana distribuiam um novo folheto explicativo sobre o lixo; sempre com papel reaproveitado. Quem escrevia o material sempre com novas informações era o senhor Engenho, que não se cansava nunca de coisas novas e dividir suas descobertas com os outros.

Fui num dia desses, distribuindo folhetos que Daniel e Sapeca descobriram algo ruim: muitas pessoas não estavam usando a coleta seletiva. Elas queriam manter seus velhos hábitos e jogavam sacos contendo lixo nas calçadas ou terrenos baldios próximos à suas casas; algumas nem usavam sacos, atiravam tudo no primeiro rio ou córrego que viam! Com a ajuda de Cezinha e os meninos do Educandário, Daniel descobriu que aquilo estava acontecendo em vários bairros, por toda Flora do Sul.

Alarmado, o filho de seu Antunes contou tudo ao senhor Engenho que acabou telefonando para o prefeito. Ficou decidido que novas palestras sobre a coleta seletiva seriam dadas nas escolas de todos os bairros da cidade.

Agora, Daniel não poderia ajudar muito porque suas aulas tinham recomeçado. Mas sempre que tinha uma folga, com Cezinha e os meninos do Educandário entregava os folhetos sobre coleta seletiva. Num desses dias, quando estavam distribuindo folhetos no bairro Jardim da Mata, Daniel e Cezinha tomaram um susto: Porfírio Pé Ligeiro veio correndo na direção dos dois gritando socorro. Depois de se acalmar, Porfírio disse que uns bichos muito estranhos correram atrás dele quando ele passava perto de um terreno baldio.

Sendo o menino mais curioso do mundo, Daniel não teve dúvida e foi investigar. Quando chegou ao terreno baldio indicado por Porfírio Pé Ligeiro, Sapeca começou a latir desesperado e entrou correndo no meio do mato cheio de resto de lixo jogado pelos moradores do bairro. De repente ouviu-se um “caim, caim”. Alguma coisa tinha atacado o cachorrinho de Daniel que voltou correndo para o colo do dono. Com um pedaço de pau na mão Cezinha avançou no mato e tomou um baita susto: três cachorrinhos vira-latas, iguais a Sapeca, e dois gatos estavam revirando sacos de lixo. O problema era que o pelo deles, assim como os olhos, brilhavam em várias cores diferentes; ao lado dos restos de lixo que comiam escorria um líquido preto e mal cheiroso, o Chorume.

Com dó dos pobres bichinos Cezinha não os atacou e todos foram correndo avisar o senhor Engenho.

Depois de uma reunião de emergência com o pai de Daniel e o senhor Engenho, o prefeito de Flora do Sul tomou várias decisões importantes. Ao departamento de saúde animal da cidade foi ordenado que os cães e gatos transformados pelos pequenos Chorumes de saco de lixo fossem capturados.

Os próximos dias foram bem complicados, não era fácil pegar todos os cães e gatos que tinham sido transformados pelo Chorume dos sacos de lixo abandonados. Além disso, naqueles dias, choveu bastante em Flora do Sul e por causa do lixo jogado nas ruas os bueiros entopiram e houve enchentes em vários bairros.

Felizmente, tudo acabou dando certo. Ninguém se machucou nas enchentes e, os bichinhos transformados, foram alimentados com comida normal, vacinados e quando o efeito do Chorume passou, eles foram devolvidos aos donos. Em parceria com a prefeitura, mais uma vez com apoio do seu João Antunes, a associação recebeu novas unidades de cestos para coleta seletiva.

Por último, o senhor Engenho deu várias palestras nos bairros onde as pessoas mais jogavam lixo no lugar errado. Com essas informações e com o susto de ver seus bichinhos transformado em perigosas criaturas coloridas e enchentes, elas descobriram a importância de tratar o lixo de forma correta.

Em poucos dias tudo estava resolvido, ou melhor quase tudo, havia um problema muito sério: Sapeca. Depois que sua patinha direita foi mordida ele foi adoencendo, adoecendo até que, por fim, ficou muito fraquinho. Pedro, o veterinário, fez tudo o que sabia e disse que todos tinha que torcer para que o pobre cachorrinho se recuperasse. Durante três semanas, todos os dias, vários amigos de Daniel vinham visitar Sapeca: Cezinha e a turma do Educandário; a professora dona Esperança e os meninos da sala de Daniel, os catadores da associação, o prefeito, o senhor Engenho e até, veja só, os moradores do Bairro Jardim da Mata onde os cachorrinhos e gatos transformados foram vistos pela primeira vez.

Daniel ficou muito triste e fazia tudo o que podia para fazer Sapeca melhorar, mas o cachorrinho continuava dormindo em sono profundo.

Então, numa noite Daniel acordou e viu que estava cercado por vários cachorros e gatos de pelos e olhos coloridos latindo e miando ameaçadoramente para ele. Pensou em gritar para os pais, mas não conseguiu. Para piorar tudo, o Chorume estava subindo por sua perna e ele começou a tossir sentido o seu terrível gás sufocante. Sem conseguir reagir, o Chorume foi subindo até que cobriu o rosto de Daniel e ele começou a sentir seu rosto molhado, molhado tão molhado que parecia que alguém estava lavando ele. Mas Daniel não estava sendo lavado, estava sendo lambido! O Sol estava surgindo no horizonte e com ele, Sapeca tinha acordado Daniel de seu sonho com inúmeras labidas de carinho. O vira-lata mais esperto e curioso de Flora do Sul estava de volta!

FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário