sexta-feira, 22 de março de 2013

Daniel e os bichinhos do lixo - A origem dos bichinhos do lixo (Livro 3)




Fazia dois meses que os bichinhos do lixo tinham ido embora e Daniel estava muito feliz. A separação do lixo em cestos de vime ajudou seu pai a começar a resolver o problema do lixão, trabalho que o prefeito tinha lhe encomendado. Por causa de Daniel e Sapeca boa parte daquilo que era jogado no lixão podia ser reaproveitado.

Daniel e Sapeca continuavam indo todos os dias para a escola. Claro que o cachorrinho esperava pelo dono do lado de fora da sala de aula. Mas não era só o pai dele que estava feliz, a curiosidade de Daniel começou a ser alimentada por aulas muito interessantes onde ele aprendia sobre aquilo que seu pai estava trabalhando, o lixo.

Daniel descobriu, por exemplo, que o papel era feito de árvores e que toda vez que o papel retirado do lixo e guardado nos cestos azuis era reaproveitado várias delas deixavam de ser cortadas. Mil quilos de papel de lixo poupavam a vida de até vinte árvores!

Outros tipos de lixo se reaproveitados também economizam recursos da natureza. O vidro guardado nos cestos verdes diminuia o uso de areia, matéria-prima para aquele material. Já o lixo dos cestos vermelhos, o plástico, reduzia a necessidade de petróleo, outro recurso natural que uma vez usado, ia acabando.
 Nos momentos que não estava estudando Daniel explorava o lixão tentando reencontrar os coloridos bichinhos do lixo, mas não os encontrava. Seu João Antunes e seus funcionários também não avistaram mais as criaturinhas comedoras de detritos.

Enquanto satisfazia sua curiosidade, o prefeito contratava mais pessoas para ajudar o pai de Daniel na separação do lixo. Mas tinha algo que atrapalhava o serviço de aproveitar o lixo: os restos de comida, de frutas, de legumes, de folhas, as migalhas de pão, os gravetos e um monte de outros materiais vindos das casas das pessoas.

Diferente do plástico, papel, vidro e metal, o lixo vindo as casas apodrecia, ficava estragado. E quando isso acontecia, acabava estragando também o lixo que podia ser reaproveitado e trazia dinheiro para a cidade de Flora do Sul. Era uma pena, mas no lixão, boa parte de tudo que chegava das casas era esse material que apodrecia e não, aquilo que podia ser reaproveitado.

Enquanto os adultos tinham suas dificuldades para separar o lixo, Daniel descobriu outro problema grave causado pelo lixo que apodrecia. Antes, com os bichinhos do lixo, as águas ficavam polúidas com diferentes cores todas vezes que eles bebiam. Agora, outra coisa estranha começou a acontecer: um misterioso líquido negro e mal cheiroso começou a poluir os rios e lagoas próximos ao lixão. Nem Daniel nem seu pai sabiam de onde vinha aquele líquido; era hora de pedir ajuda.

Daniel pediu emprestado o celular do pai e ligou para o amigo, o senhor Engenho. Ele tinha passado os últimos meses tentando sem sucesso descobrir a origem dos bichinhos do lixo. Depois de cumprimentar o pequeno amigo que já não via há algum tempo, o senhor Engenho disse a Daniel que estava viajando e demoraria ainda a voltar. Quando ouviu do menino sobre o líquido negro o estudioso senhor Engenho disse para que ele tivesse cuidado: poderia ser o terrível Chorume.

O senhor Engenho nunca tinha visto o Chorume, parecia que o monstro era só uma lenda, mas as pessoas acreditavam que ele era um líquido negro que surgia em locais onde tinha lixo. Como ele aparecia ninguém sabia, mas o senhor Engenho pediu ao garoto para que avisasse ao pai e os outros funcionários da prefeitura para tomarem cuidado porque se o líquido fosse o Chorume, todos corriam perigo.

As águas continuassem ficando escuras e mal cheirosas ninguém conseguia achar a origem do problema. Um dia Daniel deu o seu assobio secreto que só os urubus escutam e seu amigo, o urubu PP, veio voando lá do alto do céu. Após fazer muito carinho na careca de seu amigo PP, Daniel pediu a ave que voasse pelo enorme lixão procurando qualquer líquido preto que encontrasse; ele e Sapeca sairiam procurando a pé.

Os dias foram passando e mesmo com a ajuda de PP, Daniel não achava de onde vinha o líquido negro. Numa manhã antes da escola, ele e Sapeca saíram para continuar a busca. Quando já era quase hora de se arrumar para a aula, o cachorrinho começou a cavar e latir sem parar. Logo, surgiu do chão um espelho! Claro que o vidro estava todo sujo e não dava para se ver refletido nele. Mas dava para saber que aquele não era um espelho igual aos que sua mãe tinha em casa; o que Daniel achou parecia ser muito, muito antigo.

Para não se atrasar para a escola, Daniel decidiu que ia mostrar mais tarde o achado de Sapeca para o pai. Aproveitando a aula sobre cuidados sobre o lixo, ele perguntou à professora se era possível que uma coisa de vidro ficasse enterrada por muito tempo sem se desfazer. Aí veio a surpresa: o vidro poderia ficar milhares de anos enterrado sem se estragar! A professora aproveitou para dizer que o vidro não era o único problema, um simples ciclete jogado na terra por descuido poderia demorar cinco anos para se sumir!

Aquelas informações deixaram Daniel espantado porque ele sempre achou que as coisas encontradas no lixão tinham sido jogadas lá há pouco tempo. Na verdade, muitas coisas poderiam ficar poluindo o ambiente por anos! O espelho que que ele encontrou era um exemplo de coisa antiga; talvez tivesse sido enterrado até pelos homens da caverna!

Quando estava voltando para casa, Daniel descobriu que aquele seria um dia de boas surpresas, PP voava em círculos sobre ele e Sapeca; o urubu queria que o menino o seguisse. Correndo atrás de seu amigo voador Daniel chegou a uma parte do lixão cheia de restos de alimentos estragando; o cheiro era horrível, mas PP parecia muito contente com aquele perfume.

Então, Daniel viu que aonde os restos de comida já estavam bastante estragados, acumulava-se um líquido negro e mal cheiroso. PP tinha descoberto a origem da contaminação dos rios! O terrível líquido aparecia por causa do apodrecimento dos restos de carne, frutas, outras comidas e folhas. Assim que ia aparecendo o líquido ia escorrendo pela terra, um pouco entrava pelo chão enquanto outra parte corria até o rio mais próximo, poluindo-o.

Como todo mundo sabe, onde tem comida estrada tem moscas e outros bichinho voando e ali também tinha. Mas, o incrível era quando uma mosca, vagalume ou borboleta caia sobre o líquido preto, sofria uma incrível transformação: virava um daqueles incríveis bichinhos coloridos comedores de lixo!

Após se transformar, o bichinho colorido voava, voava sobre o lixo e, acaba caindo para voltar a ser só uma mosquinha, vagalume ou borboleta. Daniel entendeu todo o mistério: os restos de comida apodrecida, produzinham o líquido negro e este produzinha os bichinhos coloridos do lixo. Como agora, o pai de Daniel e seus funcionários tinham separado todo papelão, plástico, metal e vidro, os bichinhos coloridos não tinham o que comer e perdiam a transformação que o líquido negro tinha produzido neles!

“Nossa” – pensou Daniel – “quanta coisa só por causa dos alimentos estragados”.

_ Vamos, Sapeca. Temos de contar para o papai sobre o perigo do lixo que estraga.

Assim que o menino e seu cachorrinho saíram correndo do local cheio de resto de comida estragando, o líquido preto começou a borbulhar. O Chorume tinha ouvido Daniel e não podia deixar que ele e as outras pessoas acabassem com os restos de lixo que o alimentavam. Mergulhando por baixo da terra do lixão o líquido negro partiu a toda velocidade para se vingar dos humanos.

Como pegou carona num rio subterrâneo que corria sobre o lixão, o Chorume chegou no lugar em que seu João Antunes e outros estavam antes de Daniel. Sem aviso, o líquido negro mal cheiroso começou a borbulhar do chão e foi cercando os pobres trabalhadores; o monstro não deixaria ninguém atrapalhá-lo.

_ Olhem, o quê é isso? – gritou um dos catadores funcionários da prefeitura. Quando seu João Antunes e os outros olharam eles estavam cercados pelo líquido negro que se aproximava perigosamente deles; o Chorume iria cobri-los com seus gases tóxicos, sufocando a todos!

Então, Daniel e Sapeca chegaram. Ao ver o pai e seus amigos cercados pelo ameaçador Chorume, o garoto começou a gritar por socorro. Mas, infelizmente, não tinha ninguém ali. O Chorume já tinha alcançado os pés de seu João Antunes e os outros, mas por enquanto os homens resistiam pois usavam botas, luvas e outros equipamentos de proteção para mexerem no lixo; eles só não conseguiriam lutar contra o gás do Chorume quando o líquido preto tivesse subido neles e alcançado seus narizes. Alguns dos homens já começava a tossir sentido o maligno gás produzido pelo monstro.

Deseperado, Daniel jogou a mochila da escola no chão, caiu sentado e começou a chorar; o espelho que estava na bolsa caiu ao lado do menino. A pobre Sapeca sem saber como ajudar o dono, começou a fazer o que sempre fazia quando estava feliz ou nervosa: correr atrás do próprio rabo.

Cercados pelo Chorume os homens gritavam desesperados e Daniel chorava ainda mais, suas lágrimas eram tantas que começaram a inundar o vidro do espelho antigo. Então, Sapeca parou de realizar a impossível tarefa de pegar a própria cauda e começou, primeiro, a latir para o espelho e depois, a lambê-lo. Daniel percebeu algo incrível no espelho: enquanto Sapeca o lambia ele não refletia a imagem do cachorrinho, mas mostrava uma bela e verdejante paisagem cheia de árvores. Sem acreditar, o menino apanhou o espelho e olhou diretamente nele; continuava não refletindo quem estava de frente para ele, só mostrava uma paisagem. Assustado, Daniel jogou o espelho para o lado. Quando o vidro do espelho ficou de frente para um monte de lixo, imediatamente, ramos começaram a surgir onde antes só havia coisa suja!

O cérebro de Daniel começou a fervilhar e ele teve uma grande ideia: apanhou o espelho e jogou-o sobre o Chorume que já subia acima da cintura de seu pai. De repente o líquido negro fedido começou a rugir de um jeito assustador. No momento seguinte, um lado daquele rio de substância negra que era o monstro começou a se transformar em ramos e flores enquanto a outra parte tentava voltar para o chão fugindo; mas não deu, a transformação feita pelo espelho foi tão rápida que todo o Chorume virou planta antes de conseguir fugir. O senhor João Antunes e outros funcionários da prefeitura estavam salvos! 

 Passados a tosse e o susto do pai, Daniel contou-lhe que o Chorume vinha do resto de alimentos e outros lixos domésticos. Falou também que foi graças ao Chorume que os bichinhos coloridos que se alimentavam de lixo tinham surgido. O pai disse a Daniel que se tinham acabado com as criaturinhas coloridas separando os diferentes tipos de lixo também começariam a separar os restos de alimentos para evitar que um novo monstro Chorume fosse criado. Seu João Antunes também quis saber sobre o incrível espelho mágico que o tinha salvo, mas ninguém foi capaz de encontrá-los em meio ao jardim que tinha surgido no lugar que antes era o Chorume. O mais velho dos catadores de lixo disse que quando chegou ali ainda criança, há muitos anos, o lugar que hoje era o lixão tinha os mesmos tipos de plantas que o espelho criou.

Uma semana depois, o senhor Engenho voltou de suas palestras sobre cuidados com o lixo nas cidades da região. Já o prefeito de Flora do Sul ficou muito satisfeito com seu João Antunes e seus outros funcionários. Graças ao trabalho deles, menos árvores tiveram de ser cortadas na região; claro, os rios e lagoas também voltaram a ter sua aparência saudável. Outra coisa boa do trabalho deles foi que o lixão parou de aumentar de tamanho porque agora parte do lixo não ficava mais ali, era reaproveitado.

Já Daniel e Sapeca foram convidados pelo senhor Engenho para ajudá-lo em suas palestras sobre o lixo para as pessoas da região; afinal, aquela dupla sabia das coisas.

FIM

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