quarta-feira, 13 de março de 2013

Convívio




Toda vez que venho a esse maldito restaurante o garçom faz cara de espanto pela comida que peço por mim e por Heloísa e que, certamente, irei deixar quase toda intocada. Espantado ele ficaria se soubesse como odeio estar em qualquer restaurante mas sempre me deixo coagir pelos desejos de minha "companheira".

Devo confessar que se os caprichos de Heloísa ficassem só na obsessão de ir sempre ao mesmo restaurante eu seria feliz. Na realidade, meu calvário se completa por outras múltiplas formas de tortura que podem todas serem resumidas no seguinte: realizar tudo o que ela gostaria de viver e não ter um segundo ao menos para o mais microscópico dos meus desejos. Em suma, minha existência consiste em executar as ordens que ela recita em minha cabeça.

Por tudo isso, não se passa um segundo sem que eu sonhe em libertar-me desse convívio-prisão. E para isso nada melhor que exterminar Heloísa da face da Terra. Não pense que tal desejo de libertade restringe-se ao pensamento. Não. Cada uma de minhas fibras musculares contrai sinalizando sua prontidão em materializar pensamento em ato. Mas não posso matá-la! Simplesmente porquê já o fiz numa tentativa frustrada de assalto. A maldita tinha que mover-se daquele jeito; quando vi já tinha puxado o gatilho...

Desde então, conforme determina a Lei de Execução Pena da Federação, tive partes consideráveis da personalidade de Heloísa implantadas em meu cérebro. O resultado é que dessa forma sou obrigado a viver tudo aquilo do qual privei a moça! 

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