sábado, 10 de julho de 2010

Falcon


Eles percorriam selvas lutando contra gorilas ensandecidos; resgatavam tesouros protegidos por tubarões insones de apetite insaciável. E apesar de todo o perigo, o menino sabia que enquanto estivesse com seu amigo Falcon não tinha o que temer; o boneco o protegeria.


Contudo, havia um adversário que ambos não conseguiam sobrepujar, a mãe do menino. Preocupada com as horas que o filho passava quieto com aquele boneco ela era obrigada a fingir que lhe daria umas chinelas a fim de interromper a brincadeira. O pai achava suspeito. Onde já se viu menino brincando de bonecas? Mas eles acabaram se acostumando com aquela dupla inusitada.


Numa manhã o menino permaneceu na cama e não pôde acompanhar Falcon na aventura que o boneco havia planejado. Exames depois os pais foram informados de que seu filho sofria de uma doença grave. Iniciado o tratamento os inúmeros remédios não surtiram efeito e o garoto continuou a piorar.


Desiludida, a mãe partiu com seu filho para o interior em busca de uma renomada curandeira. Depois de olhar o menino a velha bruxa perguntou à mãe se seu filho tinha algum objeto do qual gostasse muito. De imediato a mãe contou-lhe sobre o Falcon e a velha disse o que precisa ser feito para tirar a doença do menino. Às lágrimas o filho implorou para que a mãe não seguisse as instruções. Mas não funcionou. De volta à cidade ela confeccionou um novo uniforme para o boneco a partir das roupas de seu filho. Por fim, com alguns fios do cabelo do menino ela improvisou uma barba para o Falcon.


Após o bizarro experimento o menino foi gradativamente recuperando suas forças enquanto o Falcon, escondido num armário, murchava como se tivesse sido acometido por uma perversa caquexia. Numa noite quando a vitalidade do menino estava quase recuperada, ele conseguiu sair da cama e procurar seu companheiro. Após revirar vários dos conhecidos esconderijos da mãe ele encontrou o boneco já quase sem forma. Desesperado, o garoto arrancou-lhe o uniforme e a barba.


Em resposta, a saúde do menino deteriorou-se de tal forma que ele não pôde mais ser tratado em casa e foi internado. Suspeitando do que havia acontecido a mãe procurou pelo boneco, mas ele desaparecera. Quando o garoto atingiu o primeiro estágio do coma, o médico explicou a seus pais que mais nada podia ser feito. Agora tudo dependia da vontade do paciente lutar pela própria vida.


Mais tarde enquanto o garoto dormia uma pequena mão de plástico tocou-lhe o rosto e uma voz sussurrou:


_ Ei, eu estou aqui.


E então partiram, o menino e seu Falcon, na maior de todas as aventuras.

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