sábado, 10 de julho de 2010

Irrecusável



Num dia qualquer percebeu que sua vez chegara. Para comemorar quase-escritor decidiu queimá-las; deseja que levassem sua grosseria para o inferno. Ele também não ficaria com as padronizadas, afinal, não precisava da piedade embutida naqueles pedacinhos de celulose mesclados com tinta. Nunca mais receberia cartas de recusa por seus trabalhos. Incinerando-as, o fogo purificador forjaria sua nova identidade: escritor.


Seu nome seria mencionado em todas as editoras do mundo e editores tremeriam ao ouvi-lo. Seria famoso e respeitado. Mostraria do que era capaz ao bando de autores-parasitas que por tanto tempo sugaram o que era seu por direito. Odiava-os e a seus livros inferiores. Especialmente a Machado Queiroz! Em sua opinião, o maior dos impostores.


Olhou para o relógio na parede e viu que precisa ser rápido; TK, seu contato do serviço postal, devia estar chegando. Lembrou que dias atrás tivera que ser duro com TK, mas no final ele decidiu pagar o favor que devia. Pouco depois que escritor terminou de embalar seu original, o carteiro tocou a campanhia. Claro que TK não era um carteiro qualquer, era o responsável pela entrega da correspondência do senhor Paulo Sandoval, editor-chefe da Editora Minerva.
Às quatro e meia da tarde, daquele dia qualquer, a correspondência foi entregue à assistente do editor-chefe.


_ Senhor, veja o que chegou!


_ Meu Deus, aquele malandro! Você sabia se ele estava trabalhando em algo novo?


_ Acho que ele quis lhe fazer uma surpresa.


_ Vamos ver.


Paulo Sandoval rascou a embalagem remetida por seu autor predileto, Machado Queiroz, e encontrou um maço de papel intitulado “A ultima recusa”. Ao retirar o manuscrito a caixa explodiu pulverizando seu escritório.

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