sábado, 10 de julho de 2010

Pau que nasce torto...




Orestes nascera com aquela certeza; desde pequeno quando perguntado sobre o que seria quando crescesse, respondia sem pestanejar: ladrão. No início, seus pais acharam que aquilo era algo inócuo, como no caso de crianças simpatizantes de bandidos na inocente brincadeira de polícia e ladrão; a tataravó do counter strike. Infelizmente, para desgosto de seus progenitores, Orestes era na realidade, um caso extremamente precoce de certeza quanto à vocação profissional. Conforme cresceu, o aprendiz de trombadinha foi aprovado com louvor no bacharelado em competências para meliante.

Seu único ressentimento era nunca ter conseguido uma boca de fumo toda sua. Mas as alegrias da vida que escolhera compensavam em muito essa frustração. Por exemplo, nada derramava mais adrenalina no sangue do sujeito que ir até a pista para confiscar coisas de seu agrado. O vício pela substância endógena era tão grande que vez ou outra, ele esquecia uma das mais importantes regras para um assaltante: se o indivíduo quer ter uma carreira curta e não curtíssima, deve saber retirar-se da atividade de tempos em tempos quando a coisa esquenta. Foi numa dessas crises de abstinência hormonal que ele desrespeitou essa regra e acabou entrando nas estatísticas de fatalidades produzidas pela força policial.

Quando acordou, ele estava deitado num lugar bem silencioso. Ao sentar-se, duas moedas que estavam sobre seus olhos caíram no chão. Aquilo foi realmente esquisito; acabara de morrer sem um único centavo e ao ressuscitar, tinha duas belas moedas de ouro! Para completar a esquisitice, os furos de bala, gentilmente produzidos pelos policiais, tinham desaparecido.

Levantou-se, encheu os pulmões de ar e percebeu que não poderia estar mais disposto. Deu uma olhada ao redor e viu um rio no qual uma canoa e seu condutor pareciam estar lhe esperando. Aproximando-se do barqueiro, percebeu que este lhe estendia a palma da mão solicitando suas recém adquiridas peças de ouro. Aparentemente em troca, o dono do barco o levaria até o outro lado do rio.

Aquela oferta descabida, levou Orestes a converter-se numa prova viva que mortos também são tocados pelas musas inspiradoras. Sem aviso, deu às costas ao barqueiro e foi implementar seu negócio inovador. Desde então, cada novo falecido que se materializava no local, tinha sua passagem para o outro lado do rio confiscada antes que despertasse.

Devidamente ocultado, o tesouro de moedas crescia em proporção geométrica. Orestes pensava em como seria bom se sua mãe já não tivesse feito a travessia; ela poderia ver o quão bem sucedido seu filho se tornara.

Infelizmente, o novo empreendimento tinha alguns pontos negativos. Em intervalos regulares, Orestes precisava mandar os mortos recém chegados se dispersaram, pois sem ter para onde ir, eles tendiam a ficar vadiando próximo à margem. Isso aumentava tremendamente a densidade geográfica da área. Mas com certeza, o maior imbróglio encarado por ele era o que fazer com toda sua fortuna. Quem sabe ele pediria uma dica para o barqueiro um dia desses?

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