sábado, 10 de julho de 2010

Indigente


Legista experiente, Vitório sabia ser só uma questão de tempo para que os sem-teto começassem a perecer numa pandemia de congelamento pelas ruas da cidade. Afinal, isso acontecia todos os anos e aquele inverno em particular, estava se consolidando como o mais frio dos últimos tempos. Por isso, ele não se surpreendeu quando o sujeito do carro coletor lhe informou que o recém chegado morrera de hipotermia. Ele só ficou um pouco aborrecido pois estava próximo do fim de seu turno e pensou que o motorista poderia ter-lhe feito o favor de trazer o corpo para o legista do próximo horário.

Pelo menos o frio tinha um lado bom quando se tratava dos indigentes. Quase sempre aqueles infelizes ficavam dias abandonados em becos ou valas até que alguém se dispusesse a chamar a polícia para recolhê-los. Com o sujeito que acabara de chegar não tinha sido diferente; provavelmente ele estava morto há dias, mas graças ao frio, seu estado de decomposição não era dos piores. De qualquer modo, por que se preocupar com a chegada do desconhecido? Ninguém ligava se eram ou não examinados. Bastava fazer uns cortes para simular um exame e verificar se o inconveniente não apresentava nenhum sinal evidente de doença infecto-contagiosa. Depois era só preencher um relatório com as causas de obtido óbvias: bebedeira, hipotermia ou o mais provável, morte provocada por hipotermia precedida de bebedeira.

Uma inspeção visual demonstrou que não havia nada de extraordinário no falecido: homem branco, cerca de 40 anos, sujo e vestindo farrapos ainda mais sujos. Seu rosto inchado pelo álcool e deformado pelo rigor mortis davam-lhe a aparência de um manequim barato e mal feito. Qualquer que tenha sido sua aparência, ela estava perdida; nada mais justo para um derrotado que não deixar lembranças. Provavelmente aquele sujeito não passava de um qualquer que se entregou por causa de um ou outro motivo banal.

Pouco antes de terminar o pseudo-exame, o braço esquerdo do morto caiu para fora da mesa. Quando Vitório puxou o membro enrijecido pela mão esta última fraturou-se. Ele percebeu que sob a pele de aparência relativamente jovem, ambas as mãos do morto pareciam apresentar uma densidade óssea extremamente reduzida. Se osteoporose já era uma doença menos comum entre os homens quando comparados às mulheres, num indivíduo daquela idade, a condição chegava a ser algo extraordinário. Contrariando sua motivação inicial, Vitório resolveu examinar o indigente de forma bastante minuciosa, mas logo percebeu que, além das mãos, não havia nada de diferente nele.

O dia seguinte, uma quinta-feira, era véspera de Corpus Christi e Vitório emendou o feriado graças a um colega que estava em débito com ele. Uma massa de ar polar que, reduziu ainda mais a temperatura da cidade, foi o pretexto que precisava para não levar o casal de filhos à praia. Claro que nem eles, nem Lídia, sua ex-mulher, ficaram satisfeitos. As reclamações não o incomodaram, porque acreditava nada ser suficiente para sua antiga família.

A tal massa de ar polar decidiu prolongar sua estadia sobre os céus da cidade e no início da nova semana conseguiu a proeza de empurrar o mercúrio ainda mais para o fundo do termômetro. Esse foi o gatilho para que outros moradores de rua viessem engrossar as fileiras de indigentes mortos por hipotermia metrópole afora. Entretanto, contrariando as probabilidades, nenhuma das novas vítimas chegou até as mãos de Vitório; em função dos locais e/ou do horário onde foram encontradas, elas foram dirigidas aos outros IML da cidade.

Enquanto o número de mortos pelo frio batia as marcas de anos anteriores, reportagens sensacionalistas cobravam providências das autoridades competentes. Essas por sua vez, garantiam que até o fim do inverno, ninguém mais ficaria nas ruas à merce das intempéries. As promessas jogadas ao vento trouxeram como resultado mais dois homens mortos no ínicio da terceira semana de inverno; esses chegaram num sábado durante o horário de trabalho de Vitório.

Como a rotina do IML não era determinada apenas pelo clima, mas principalmente pelas festas do final de semana, nessa mesma ocasião, Vitório estava atolado com a emissão de laudos para três moças e dois rapazes que terminaram a sexta-feira misturados a um poste. Graças a isso, ele designou os dois indigentes a um médico novato que ficaria encarregado de preencher os respectivos relatórios.

Horas depois, quando o rapaz já tinha ido embora, Vitório decidiu dar uma supervisionada em seu trabalho já que se algo estivesse errado, seria ele a pessoa de quem cobrariam o erro. Assim que comparou os relatórios, uma onda de calor subiu por seu tórax e ele jurou que, no dia seguinte, seria ele mesmo quem faria a necropsia do legista calouro. Como era possível o novato não ter percebido que suas mensurações apresentavam uma variação que em média não era maior que duas ou três unidades de medida? Aquilo tornava os dois mortos praticamente idênticos! A melhor coisa a fazer era repetir as principais medidas feitas pelo pateta e, assim, dar uma disfarçada nos relatórios.

Para o horror de Vitório, suas cinco primeiras mensurações confirmaram o que estava anotado nos registros! Aquilo não era possível. Desorientado, ele empurrou para o canto da sala as várias mesas que estavam entre os dois indigentes e colocou-os lado a lado. Era curioso, mas somente agora, importava-se com o fato daquelas duas coisas à sua frente já terem em algum momento, ostentado uma individualidade, o que provaria que ele não tinha perdido a razão. Talvez em punição às tantas vezes que o legista não viu mais que carne morta à sua frente, a decomposição apagara qualquer história daqueles homens; agora, somente os números amarrados aos dedos de seus pés pareciam estar convictos o suficiente para afirmar que aqueles homens não eram um só.

Conforme todos os itens do relatório eram revistos, a semelhança entre os indivíduos ficava mais evidente. Ao perceber que eles eram inúteis para ajudar na diferenciação dos corpos, Vitório passou a procurar por sinais ou marcas particulares que normalmente não eram registradas. Minutos depois o legista percebeu que a única característica poupada pelas forças desagregadoras da morte era a aparência das mãos. Na verdade, elas não poderiam ser mais díspares!

O sujeito cujo nome desconhecido fora substituído por uma etiqueta de número 337, tinha as mãos manchadas, cheias de minúsculos pontos. Ao avaliar esses pontos sob uma lupa, Vitório percebeu que cada um tinha uma cor diferente, como se fossem manchas de tinta. Já o que teve de esperar que outros trezentos e quarenta e cinco sujeitos fossem encontrados pelas ruas antes de ter sua chance de pisar no palco dos indigentes, o 346, tinha as mãos extremamente pequenas e enrugadas, mas apropriadas a uma mulher idosa do que a um homem de 40 anos.

Então, Vitório se lembrou do outro indigente que examinara duas semanas antes. Quando localizou o arquivo correto, ele amaldiçoou-se por ter deixado a preguiça levá-lo a não registrar os dados daquele homem. Independente disso, o legista se lembrou que de modo similar aos 337 e 346, o 319 também tinha uma particularidade bizarra nas mãos; elas se quebravam ao menor toque!

Nas horas que se seguiram, Vitório ligou para os outros três IML da cidade dizendo que a família de um figurão seqüestrado suspeitava que seu parente pudesse ter sido enterrado como indigente nas últimas semanas. Obviamente, essa abastada família ficaria muito grata em recompensar aqueles que identificassem seu ente querido. Motivados pela falsa história, não demorou para que seus colegas legistas enviassem todos os dados de homens que se assemelhavam à descrição fornecida por ele.

Pelo que pôde constatar, em pelo menos dois casos, os corpos eram praticamente idênticos aos 319, 337 e 346. Claro que aqueles homens não podiam mais ser examinados pois já tinham sido jogados sem caixão, numa vala comum qualquer. Graças a isso, muito provavelmente, nem mesmo as mãos deles estariam preservadas. Outra coincidência percebida era que, considerando a região da cidade em que foram encontrados, aqueles corpos deveriam ter parado em suas mãos, o que só não ocorreu porque quando finalmente os carros coletores chegaram ao local, à unidade de IML na qual trabalhava já estava fechada.

Aquilo só podia ser uma mensagem cujo destinatário era ele. De repente, descobrir o que estava acontecendo tornou-se tão angustiante como desobedecer aos estímulos nervosos que levavam os vivos a respirar. Ele nunca acreditou que a morte ocultasse qualquer segredo; aquele sempre fora o momento de cortar a carne e enterrar os restos. Talvez por isso, não estivesse pronto para simplesmente esquecer. Assim, apanhou tinta e coletou as digitais dos corpos 337 e 346. Em seguida, ligou para um colega policial do instituto de identificação e pediu-lhe que tentasse descobrir os donos das impressões que iria lhe enviar. Como esperado, seu colega não fez nenhuma pergunta, afinal, Vitório nunca as fazia quando o policial lhe solicitava para classificar como indigentes alguns corpos crivados de bala.

Horas depois o policial ligou dizendo que o favor fora mais fácil que o esperado: o sujeito tinha passagem na polícia. Quando Vitório perguntou qual deles, o policial abriu mão de sua habitual descrição e não poupou o legista de gozações: ele coletara duas vezes as impressões do mesmo indivíduo! Então Vitório viu seus corpos 337 e 346 serem rebatizados como José Carvalho dos Reis. Por último, o policial disse que talvez o legista tivesse sorte de identificar algum parente no endereço que tinha encontrado.

No dia seguinte, Vitório deixou um de seus auxiliares encarregado do turno e foi até o endereço de José Carvalho dos Reis. O lugar não se encaixava perfeitamente às supostas posses de um indigente; ele ficava numa região de classe média alta. Na portaria do prédio identificou-se como médico legista e que procurava por qualquer parente do falecido. O funcionário do prédio desculpou-se mas pediu-lhe que mostrasse diversos documentos; segundo ele, aquela era sua primeira semana no serviço e seu antecessor fora demitido justamente por ser descuidado na admissão de pessoas.

Ainda desconfiado, o porteiro acionou um interfone e após alguns segundos voltou com a resposta de que o morador do apartamento informado por Vitório não queria vê-lo. Disposto a testar a ignorância do rapaz, o legista insistiu dizendo que voltaria com a polícia pois sua atitude estava atrapalhando a investigação de um crime. Intimidado, o rapaz permitiu que o médico falasse ao interfone. Do outro lado da linha, uma moça acabou cedendo ao insistente médico e permitiu que ele subisse até seu apartamento.

Ao abrir a porta, ela não correspondeu ao aperto de mão dele e, após identificar-se, encorajou-o a dizer logo o que o tinha trazido ali.

_ Dona Ana, temo não ter boas notícias. Encontramos o corpo de José Carvalho dos Reis. A senhora pode me dizer qual seu parentesco com ele?

_ Ele era meu irmão...

_ Sinto em ser eu a dar-lhe essa notícia, mas ele foi encontrado na rua e trazido ao IML como indigente.

_ Eu não sabia que o IML saia à cata de indigentes.

_ Bem, nós...

_ Se quer minha ajuda, doutor, diga logo do que se trata. Embora não pareça, sou assistente social, felizmente posso me dar ao luxo de trabalhar no que gosto, sem ficar preocupada em ter uma profissão para ganhar dinheiro. Por isso mesmo, sei exatamente o que vocês fazem com indigentes e não simpatizo com tais práticas, sejam elas usadas em meu irmão ou não.

_ Me desculpe, dona Ana. Mas a história real não é das mais críveis, por isso tentei ir por outro lado. Muito bem. O fato é que nas últimas semanas, deparei-me com alguns sinais físicos bem peculiares em pelo menos três corpos; todos de indigentes. No meio da investigação sobre o que estava acontecendo, encontrei as impressões digitais de seu irmão.

_ Doutor Vitório, o senhor tem razão. Sua história não é corriqueira, mas eu lido com pessoas e com o tempo, aprendi a separar verdades e mentiras. Por isso, vou dizer-lhe o que sei.

_ Obrigado.

_ Em primeiro lugar, para ser sincera, não me surpreende que José tenha tido o destino que teve. Só achei que isso ia acontecer bem antes, há pelo menos um ano.

_ E por quê?

_ Como pode ver, meu falecido pai era um homem de posses; muitas mesmo. Apesar disso, ele nunca admitiu que eu ou meu irmão tivéssemos as coisas sem esforço. O desejo de meu pai era que José fosse um geriatra, como ele, mas meu irmão nunca conseguiu terminar a faculdade de medicina; José estava mais preocupado em drogar-se e ir a festas. Por causa disso, chegou a ser preso por curtos períodos, o que contribuiu para que ninguém o empregasse. Sem alternativas, meu pai resolveu ir contra seus princípios e empregou o filho em sua própria clínica.

_ E o que seu irmão fazia lá?

_ De tudo, doutor, serviços de limpeza e manutenção. Bem, pelo menos era isso que todos acreditavam até que alguns idosos começaram a reclamar.

_ Seu irmão os agredia?

_ Não exatamente, ele lhes roubava os pertences. Por que não entra e se senta doutor?

_ Ah, obrigado.

_ Como ia dizendo, aos poucos os roubos de meu irmão começaram a chamar atenção, mas meu pai tentou encobrir tudo repondo aos idosos o que tinha sido subtraído. Acho que no fundo, ele pressentia que se José saísse da clínica, ele teria seu fim nas drogas. A estratégia de papai funcionou até que dona Coré apareceu. Pelo que sei, meu irmão também roubou algo dela, mas diferente dos outros furtos, esse não teve nenhuma repercussão pois logo ela morreu. Para completar, seus parentes não deram falta de nada e só apareceram para apanhar os quadros da mulher; aparentemente ela era uma pintora famosa e eles valiam fortunas. Infelizmente para ele, meu irmão nunca soube disso.

_ Então como isso o prejudicou?

_ Acontece que ele começou a agir de forma estranha. Depois que José desapareceu, eu já chego lá, soubemos que ele disse a outro faxineiro da clínica que dona Coré tinha voltado.

_ O fantasma dela?

_ Não exatamente. Duas outras idosas chegaram na clínica e faleceram com menos de uma semana de permanência; meu irmão recusou-se a ajudar os outros funcionários na remoção dos corpos e não fez mais nenhum serviço no quarto em que morreram. Ele tinha uma fé absoluta no fato de que aquelas mulheres eram na realidade a dona Coré.

_ E elas eram realmente tinham semelhanças?

_ Quando perguntei isso ao colega faxineiro dele, a resposta foi que ele nem mesmo as achava parecidas! Mas o pior aconteceu no caso de uma terceira senhora. Naquele dia, alguns funcionários da clínica chegaram correndo no quarto dessa mulher atraídos por gritos terríveis de meu irmão. Ela estava imóvel sobre a cama e José estava prestes a cortar-lhe a mão esquerda quando foi contido. A mão direita tinha sido atirada pela janela do quarto. Enquanto o seguravam, ele gritava para que o deixassem acabar de uma vez por todas com dona Coré. Lamentavelmente, nós o perdemos pois apesar da vida desregrada, tinha uma enorme força física e acabou conseguindo escapar dos funcionários antes que a polícia chegasse. Isso foi há um ano e desde então não tive mais notícias dele.

_ Então seu irmão matou essa mulher?

_ Isso é o mais estranho, doutor. Dias depois, um colega seu disse que a mulher morrera de causas naturais e que já estava morta quando meu irmão arrancou-lhe a mão. Creio que meu pai foi generoso com esse legista para que ele abafasse a história.

_ Mas o que seu pai lhe disse disso tudo?

_ A mim nada; suas opiniões sobre os atos de meu irmão desceram com ele ao túmulo dois meses depois.

_ Sinto muito.

_ Eu também...

Com a promessa de que compareceria no IML na segunda-feira para liberar o corpo do irmão, Ana despediu-se de Vitório. O legista só não sabia qual dos dois corpos entregaria a ela, mas aquilo não importava. O importante era que agora sabia o que estava acontecendo: estava testemunhado à existência de algo além da vida física e, dentre bilhões de seres humanos, ele em particular, fora escolhido para ter um papel relevante nos desígnios de Deus. Afinal, o fato de que José Carvalho dos Reis estar aparecendo várias vezes significava que era sua missão ajudar a identificá-lo e dar-lhe um enterro descente. Por algum motivo, o arquiteto divino perdoara os pecados de José e cabia a Vitório ser um instrumento de tal misericórdia.

Tomado pelo êxtase, chegou à portaria que estava vazia. Sem dificuldade encontrou o botão que controlava o portão e saiu. “Deus, como está frio” pensou. Considerou-se um tolo por esquecer que era inverno e, para piorar, em comparação à hora que chegou ao prédio de dona Ana, a temperatura tinha caído bastante. Felizmente, dali a três quarteirões estaria no local em que conseguiu parar o carro; lá dentro estaria aquecido pelo ar condicionado.

A rua estava deserta e na esquina seguinte, Vitório tomou um susto ao ver um homem encolhido no chão; imediatamente lembrou-se de José, mas então, o infeliz se moveu um pouco demonstrando estar vivo. Refeito do susto, Vitório brincou ao passar pelo mendigo:

_ Nos vemos amanhã.

A poucos metros de seu carro, ele começou a ouvir passos vindos de várias direções, mas até onde a neblina permitia ver, uma inspeção de trezentos e sessenta graus não revelou ninguém se aproximando. Por precaução, completou o percurso até o carro, sem tirar os olhos da retaguarda. Ao abrir a porta do veículo ouviu em uníssono:

_ Obrigado...

_ Escutem bem, sou legista, não tenho um tostão, portanto, não adianta me roubarem...

Ao voltar-se, percebeu que os assaltantes estavam em cinco; o mendigo que vira segundos atrás e mais quatro vestidos de modo idêntico. Então o grupo repetiu:

_ Obrigado por me ajudar, doutor Vitório.

_ Mas do que é que vocês estão falando?

Em resposta, os quatro companheiros do mendigo atacaram impiedosamente o legista e só pararam quando havia mais sangue fora que dentro de seu corpo. Em seguida, apanharam o cadáver e desapareceram entre a névoa e o muro de uma casa próxima. Por fim, o mendigo os seguiu; ao partirem eles deixaram as únicas provas materiais de que realmente estiveram ali, as etiquetas numeradas que traziam presas aos dedos dos pés.

Doze meses depois, maldizendo sua sorte por ter tido que trabalhar num dia tão frio de inverno, o professor Douglas Ferreira se depara com um homem, cujas mãos estavam cruzadas sobre a cabeça, sentado em frente à porta de sua casa. Decidido a espantá-lo dali, o professor toca o sujeito e descobre que além de estar morto, ele tem um cheiro fortíssimo de formol nas mãos.

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