Retiradas

Saiu direto do consultório para a agência bancária do outro lado da rua. Dos cinco caixas eletrônicos da entrada, três estavam em manutenção. Quanto aos restantes, um fora reservado aos aposentados e o outro tinha uma fila tão grande que ele, Felipe, estaria aposentado quando fosse sua vez de sacar. Por algum motivo, aquilo o irritou mais do que era de se esperar; talvez fosse a dor resultante do tratamento.

Decidido a não voltar outro dia para pagar a consulta, resolveu obter o dinheiro na boca do caixa. Aumentando sua irritação, o segurança responsável pela porta giratória, o fez ir e voltar quatro vezes enquanto ensaiava um risinho de satisfação. Quando chegou à fila do caixa, percebeu que só um estava atendendo; era hora do almoço. No auge da fúria, disse para quem quisesse ouvir que aquilo era uma pouca vergonha. O mesmo segurança que fora tão simpático na entrada, pediu-lhe que se comportasse ou seria retirado dali.

Felipe que era um rapaz bem forte e praticante de artes marciais, nem pestanejou em responder ao guarda que se ele tentasse, não só receberia uma surra como teria sua arma enfiada num local mais íntimo. Ofendido e encorajado pela arma em punho, o segurança avançou contra o rapaz que não teve dificuldade de aplicar-lhe uma gravata. Infelizmente durante a luta, o revólver disparou contra o pescoço do dono. O companheiro de trabalho do segurança morto atirou contra o jovem, mas só conseguiu arrebentar a porta giratória. Apoderando-se da arma do primeiro adversário, Felipe reagiu e foi bem sucedido em cometer seu segundo assassinato. Desorientado, correu em direção à saída do banco recebendo um tiro na cabeça de um policial à paisana; ele cambaleou e desabou inerte na porta da agência.

Alertado pelo barulho dos tiros, o doutor Paulo Varanauskas teve seu bom senso vencido pela curiosidade e foi até a janela de seu consultório que ficava no segundo andar. De lá, viu o cliente do qual acabara de extrair os dentes do siso estirado na porta do banco vizinho.